CASAS

Adoro casas, desde bem cedo aprendi com minha tia a apreciar antiquários, lojas de decoração,  "família vende tudo"... e nos finais de semana íamos felizes apreciar fachadas, como um "check list" do aprendizado, íamos de carro e mal percebia que mais do que o contorno da fachada ali se alicerçava meu gosto pela estética, meu fascínio pelas formas. Minha mãe lapidou meu instinto, me ensinou sobre esmero, cuidar, limpar, resgatar preciosidades de família, bordados antigos, toalhinhas de crochet, muito mais do que bem servir, muito mais do que mesa posta, uma família era estendida por sobre a mesa junto com a toalha de renda.

A essas duas mulheres maravilhosas devo entre muitas outras coisas,  meu olhar aguçado, meu encantamento pelos detalhes, minha paz em aconchegos, minha comoção por histórias. Guardei no coração suas sabedorias e por elas preservo na alma tudo o que a memória amou.

Adoro casas perfumadas, atmosferas convidativas, vasos de flores, receitas de família, velas acesas...Gosto do que invoca reverência.

Uma casa desvela por onde passamos, quem somos, como vivemos. Coleções, confissões, impressões,  revelam por onde andam nosso amor e gratidão. Compartilhamento são evocados em compartimentos. Mais do que nosso endereço, está ali nosso adereço .

Amo certas casas, sou inspirada e moldada por algumas delas, sinto a gentileza expressa em gestos mas também a estendida e transbordada pelos objetos. Gosto do apreço; do amor cotidiano. Como Balzac acredito que "a delicadeza é sempre bem sucedida".

Ainda hoje sigo casas, aprecio luzes acesas e toalhas na mesa. E conservo um desejo infantil de entrar e ver morar.

Ana