"Do ponto de vista da coruja, do morcego, do boêmio e do ladrão, o crepúsculo é a hora do café da manhã. A chuva é uma maldição para o turista e uma boa notícia para o camponês.
Do ponto de vista do nativo, pitoresco é o turista. Do ponto de vista dos índios das Ilhas do Mar do Caribe, Cristóvão Colombo, com seu chapéu de penas e sua capa de veludo encarnado, era um papagaio de dimensões nunca vistas. Do ponto de vista do sul, o verão do norte é inverno. Do ponto de vista de uma minhoca, um prato de espaguete é uma orgia.
Onde os hindus veem uma vaca sagrada, outros veem um grande hamburger. Do ponto de vista de Hipócrates, Galeno, Maimônides e Paracelso, havia uma enfermidade no mundo chamada indigestão, mas não havia uma enfermidade chamada fome. Do ponto de vista de seus vizinhos no povoado de Cardona, o Toto Zaugg, que andava com a mesma roupa no verão e no inverno, era um homem admirável: -O Toto nunca tem frio-diziam. Ele não dizia nada. Frio ele tinha, o que não tinha era agasalho.
Do ponto de vista das estatísticas, se uma pessoa recebe mil dólares e outra não recebe nada, cada uma dessas duas pessoas aparece recebendo 500 dólares no cálculo da receita per capita. Do ponto de vista da luta contra a inflação, as medidas de ajuste são um bom remédio. Do ponto de vista de quem as padece, as medidas de ajuste multiplicam o cólera, o tifo, a tuberculose e outras maldições. Do ponto de vista do oriente do mundo, o dia do ocidente é noite. Na Índia, quem está de luto se veste de branco.
Na Europa antiga, o negro, cor da terra fértil, era a cor da vida, e o branco, cor dos ossos, era a cor da morte ."
Eduardo Galeano em De Pernas Pro Ar
Viajar é imbatível pra quebrar, por vezes abrilhantar qualquer ponto de vista. Viaje mais e aprenda a se tornar tolerante. Aprenda a relativizar. Aprenda a saber-se. Vença uma nova língua. Cultue uma nova cultura. Traga o melhor, deixe seu melhor. Ande muito até se perder de vista. Traga lembranças e não só souvenirs. E enquanto seu corpo ainda não se nega a seguí-lo continue planejando, explorando, desbravando. Use outras chaves. Percorra outras paisagens. Durma em outras paragens. Não perca sua passagem. Aprenda com os avisos, sorria com novos sorrisos, tente saber novos sizos. Se importe menos com seus "issos" construa outros juízos. Desmonte suas estereotipias, abandone suas manias vista-se de alegrias, cubra-se de muitas magias, seja você o seu guia.