sexta-feira, 22 de novembro de 2013

PARIS por Joaquim da Fonseca


"Ça va, monsieur... Por Joaquim da Fonseca

Romanticamente comovido nos Quais que margeiam o Sena, contemplativamente enlevado nos jardins do Palais du Luxembourg, nostalgicamente perdido nas vielas existencialistas do Quartier Latin, gulosamente deliciado nos bistrôs do Marais, celestialmente maravilhado com a Catedral de Notre-Dame, ricamente adornado nas vitrinas de Champs Élysées, historicamente esclarecido na Esplanade des Invalides, monumentalmente embasbacado no parque Champ de Mars, eroticamente excitado nos cabarés de Place Pigalle, reverentemente ilustrado ao longo dos corredores do Louvre, patrioticamnte exaltado na Place de la Bastille, culturalmente entusiasmado nos cinco andares de Beaubourg, alegremente embriagado nas brasseries de Saint-Germain, criativamente eletrizado no Museu Picasso, divinamente hipnotizado pelos vitrais da Sainte Chapelle, artisticamente motivado nas ladeiras de Montmartre, ternamente apaixonado sob as árvores do Place Dauphine, calorosamente iluminado pelas telas impressionistas da Gare d’Orsay. Em Paris, pode-se ficar tudo isso e muito mais. Foi um pouco assim que fiquei, bobamente enfeitiçado pela simples razão de estar lá, seguindo os passos do Luis Fernando, traçando meus desenhos pelas ruas, parques e boulevares de uma cidade inesquecivelmente encantada."

 Extraído de: VERISSIMO, Luis Fernando e FONSECA, Joaquim da. Traçando Paris. Porto Alegre, Artes e Ofícios Editora, 1995; ilustrações de Joaquim da Fonseca.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

EU NÃO TERMINAREI ESTA VIAGEM - PARTE II


Nas amplas avenidas do 7° arrondissement (subdistritos administrativos) encontram-se mansões imponentes, embaixadas e alguns dos maiores monumentos da cidade.

A Torre Eiffel foi iniciada em janeiro de 1887 e concluída em março de 1889, totalizando 2 anos, 2 meses e 5 dias de trabalho para juntar 18 mil peças de aço usando-se 2,5 milhões de rebites. Contou com a participação de 50 engenheiros e 132 operários. Desafiando todos os presságios foi erigido o símbolo por excelência de Paris. Números astronômicos e significativos para um monumento construído para ser provisório a ser desmontado em 1909, fato este que nunca ocorreu já que a torre equipada com instrumentos meteorológicos e de rádio prestava excelente auxílio aos serviços militares.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

EU NÃO TERMINAREI ESTA VIAGEM...

EIFFEL, A TORRE SÍMBOLO DA CAPITAL FRANCESA



"Nós, escritores, pintores, escultores, arquitetos, amadores apaixonados pela beleza até agora intacta de Paris, viemos protestar com todas as nossas forças, com toda a nossa indignação, em nome do gosto francês ignorado, em nome da arte e da história francesa ameaçadas, contra a construção, em pleno coração de nossa capital, da inútil e monstruosa Torre Eiffel, que a maledicência pública, frequentemente imbuída de bom senso e espírito de justiça, já batizou como Torre de Babel"...

domingo, 17 de novembro de 2013

VIAGEM AOS DOMINGOS DA INFÂNCIA

Domingos inesquecíveis...foram tantos...eram todos...e se foram no tempo com a mesma velocidade com que se consolidaram em nossos corações. Falo do tempo em que os domingos tinham casa, tinham cara...cara de família. Vinham muitos...num tempo em que éramos todos e partida era um termo só usado para jogos; para até o próximo encontro e não tinham o duro sabor da eternidade. Muitos se foram, falarei então da alegria que deixaram as pessoas desses domingos.

Casa da vovó Ignez, quem sabe intensificar por favor faça um treino pessoal agora e volte ao seu domingo de infância. Casa enorme como sonho de criança. Logo na entrada uma colméia com abelhas que só serviam para se embaraçarem nos cabelos, não picavam e posso assegurar que não, pois éramos em muitos e todos repetíamos incessantemente a espetacular experiência que se seguia ao colo dos adultos, cuidadosos em retirá-las para as próximas tentativas.

Tinha também uma árvore de camélias, que todos os domingos aguardavam ansiosas por se saberem as escolhidas para entrega à tia Mércia no fim daquelas tardes. Colhidas com amor pelo tio Luiz, assim também eram acolhidas por nossa "Dama das Camélias", que nos fez tê-las como as preferidas por selarem o fim das tardes da infância.

A hora do lanche numa cozinha que pertencia à cozinheira, D. Olinda e seu fiel gato. Enquanto ela ficava de costas em seus afazeres ele de frente, nos olhava. Ninguém se atrevia, só vovó, sentada em uma cadeira, em território próximo, batia um bolo à mão, com uma calma de quem não estava contra o tempo mas a seu sabor... sabor de bolo batido à mão. Tempo de calma, pressa de que? Éramos todos crianças, os tios todos jovens e para nós vovó era eterna.

Um único problema, um único copo de vidro com bolinhas coloridas, naquele tempo as opções eram limitadas, não viviam por aí, pendendo em prateleiras, e por isso, um copo de vidro era tão intensamente pelejado. Quem seria a criança escolhida? Éramos incapazes de elegermos entre nós, precisávamos sempre da interseção de um adulto que elegia um bom motivo ou uma boa qualidade daquele que se faria merecedor. Tempo simples, onde copos de vidro eram troféus, onde qualidades eram bravamente disputadas e por elas se recebiam um prêmio que duraria um almoço, uma sobremesa e um lanche inteiro. Não era pouca coisa para dias que eram feitos para durar.

Atrás da casa havia um jardim onde vovó sentava-se debaixo do varal e punha-se a serviço de nós. Eram entregas de amor, de jornais e retalhos para que pudéssemos fazer o melhor chapéu de soldado; vidrinhos de remédios vazios com direito a colheradas de açúcar para que pudéssemos abrigar as formigas, já eram presentes, mas vovó insistia em entregar-nos também um saquinho de mel, que sabiamante é vendido até hoje e me faz voltar à doçura da infância. Sempre que posso me presenteio com um desses e me refaço de um mau momento instantaneamente.

Atrás do jardim, uma portinha na lavanderia levava-nos à horta onde podíamos colher ervas usando panelas de verdade para cozinhar. Um grande aquário de cimento que aos olhos da infância tinha tamanho do mar. A marcenaria do tio padre, os cachorrinhos: Pituca, Lili, Faísca e toda sua geração de filhotes...e lá no fundo do terreno, uma pequena casa, onde morava o Seu João, ele não falava com ninguém, vivia por sua conta e sorte, cozinhava em suas panelas escuras e era nestes momentos que o víamos sair de casa. Vovó o acolheu da rua e ele lá ficou, pensávamos que pertencia à casa, nunca sequer o vimos sair ... bem, só no dia que vovó morreu, lá estava para nosso espanto Seu João, sentado na última cadeira da igreja,neste dia ele se despediu de nós e se foi misteriosamente, do mesmo jeito que viera. Minha prima Patrícia morria de medo dele, o misterioso Seu João em seu silêncio e solidão aterrorizava sua infância. Dele mantínhamos uma respeitosa distância, estabelecida em silêncio por ambos os lados...e ninguém se atrevia a passar da porta da lavanderia durante a noite. Figuras de infância se tornam lendas pois sempre servem a favor do imaginário. Hoje o tenho como um anjo, fiel escudeiro de vovó pois se foi quando não mais a viu.

Padre Gesualdo, vinha sempre sorrindo, ruivo, tudo nele era colorido, com sua viola entoava sempre a mesma música: "Venha Seu Zé, venha Seu Mané, venha Pedro e Bastião que Seu Juca vai contá o que viu nas capitá coisa mesmo de fazer espantação..."E assim chamando na música, chamava também a todos nós, amigo do tio padre, como tinham histórias para contar. Ahhh se eu pudesse pediria: "Venha Seu Zé, venha Seu Mané, venha Pedro e Bastião...".Voltem todos...

O corredor dos quartos à noite nos fazia medo, era quando cansados, pensávamos no próximo domingo, não na segunda-feira. Hora da televisão, hora do tchau. Quanto tempo dura um domingo? Uma avó? Uma família?

Hoje vem uma vontade de fazer deste domingo uma homenagem àqueles. É pena que muitos se foram, é pena que não temos a oportunidade de estarmos todos tão juntos. Soube há dias que, assim como eu, alguns de nós, em momentos difíceis secretamente voltam à frente da casa da vovó e lá, parados, recobrem as forças em busca do tempo em que a felicidade era eterna, durava um domingo inteiro. Soube porque a casa de vovó esteve novamente à venda e, cada um de nós foi a seu tempo, interessados na casa de nossa infância. Não podemos mais comprá-la mas também não podemos mais esquecê-la.

À vovó Ignez, onde quer que Deus a tenha colocado, agradeço a cada domingo de minha infância.