segunda-feira, 30 de maio de 2011

FALTA MUITO

"Vou vivendo as estações de meu destino...Falta muito o que andar. Existem luas para as quais ainda não lati e sóis nos quais ainda não me incendiei. Ainda não mergulhei em todos os mares deste mundo, que dizem que são sete, nem em todos os rios do Paraíso, que dizem que são quatro.
Em Montevidéu, existe um menino que explica:
- Eu não quero morrer nunca, porque quero brincar sempre."

Eduardo Galeano, Olivro dos abraços

sábado, 28 de maio de 2011

CASAS



Adoro casas, desde bem cedo aprendi com minha tia a apreciar antiquários, lojas de decoração,  "família vende tudo"... e nos finais de semana íamos felizes apreciar fachadas, como um "check list" do aprendizado, íamos de carro e mal percebia que mais do que o contorno da fachada ali se alicerçava meu gosto pela estética, meu fascínio pelas formas. Minha mãe lapidou meu instinto, me ensinou sobre esmero, cuidar, limpar, resgatar preciosidades de família, bordados antigos, toalhinhas de crochet, muito mais do que bem servir, muito mais do que mesa posta, uma família era estendida por sobre a mesa junto com a toalha de renda.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

TRAVESSIA

"Numa grande avenida de uma grande cidade latino-americana, alguém espera para atravessar. Plantado junto ao meio-fio, diante da incessante rajada de automóveis, o pedestre espera 10 minutos, 20 minutos,1hora.
Volta-se, então, e vê um homem encostado numa parede, fumando.
Pergunta-lhe:
- Como é que eu posso passar para o outro lado?
- Não sei. Eu nasci no lado de cá."
                                                
Eduardo Galeano, De pernas pro ar

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O MAR


"Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!"

Eduardo Galeano, O livro dos Abraços

NO MEIO DE TUDO


Por Fabrício Carpinejar em, Borralheiro

"No guichê da companhia aérea, sempre avanço sobre o computador do atendente, espichando o queixo e exigindo:

Corredor ou janela, não me deixe no meio, não quero o meio, abomino o meio.

O funcionário explicou que reservaria o lugar desejado, sem problema, que me acalmasse. Com a emissão do bilhete, terminou minha principal ansiedade, o corpo já deslizava com rodinhas para a sala de embarque.

Demonstro preconceito mesmo com a localização, uma exigência pessoal em cada partida, tão importante quanto lembrar em acumular as milhagens no cartão.

O meio é o inferno do céu. Para quem viaja excessivamente como eu, é humilhante ficar prensado entre um que dorme e o outro que também dorme, desconhecidos prestes a desabar em meus ombros e fazer gargarejo do ar refrigerado. Comprovado cientificamente que o passageiro encurralado entre as pontas é incapaz de cochilar. Atordoado como uma babá cuidando de gêmeos. Sofre de hipertensão arterial, encolhido, cacto na chuva, pronto a se defender dos lapsos dos seus vizinhos. Não poderá se mexer durante  as longas horas do trajeto, muito menos trocar de livro e buscar seu laptop. Ou ele pega tudo de que necessita no momento em que entra, ou esquece, inútil mudar de ideia. Até para mijar, pensará como acordar seus obstáculos. A voz do comandante é a única abertura com o andamento da viagem.



quarta-feira, 25 de maio de 2011

UMA SEMANA NO AEROPORTO

"Podemos implorar aos lugares onde passamos as férias: 'Ajude-me a ser mais generoso, menos medroso e sempre curioso. Abra uma brecha entre mim e minha confusão emocional, coloque um oceano, o Atlântico, entre mim e minha vergonha.' Bem mais sábios seriam os agentes de viagem se, em vez de perguntar para onde queremos ir, perguntassem o que queremos mudar em nossa vida."
                                                                                                                 
 Alain de Botton 

segunda-feira, 23 de maio de 2011

FONTANA DI TREVI


Me valerei do texto de Fabrício Carpinejar, em seu divertido livro Borralheiro.

"É achar uma fonte e pretendo viciá-la em desejos. Intoxicá-la de promessas. Chantageá-la com meus pedidos absurdos. Eu me transformei num traficante de milagres, num aliciador de degraus e lajes.

Não tenho pudor. Às vezes, cometo gafes e despejo a niqueleira em santuários de Nossa Senhora ou em piscinas de plástico. Qualquer água parada é motivo para depositar os centavos. Persigo os tanques como um Aedes aegypti da superstição.

Assim como crianças gostam de lançar farelos de pão aos patos, jogo moedas aos meus sonhos.Todo lugar é Roma, todo aquário de pedra é Fontana di Trevi. É uma fixação messiânica. Os guardadores de carro que me perdoem, mas não nutro simpatia pela superfície, deixo as economias para as profundezas e os ralos; os santos têm que mergulhar, abrir os mariscos de metais, lustrar efígies.



domingo, 22 de maio de 2011

EXCURSÃO X INCURSÃO



Definitivamente minha família não faz o perfil de um excursionista, nosso guia não finca bandeira, já vamos com a lição feita. Sempre viajo antes, me abasteço de todas as informações bem antes de chegar ao destino, gosto de journals, de papeizinhos com dicas de amigos, guias, muitos mapas espalhados pelo carro, e me abasteço de cupons de descontos.

GPS é um item a parte, fora do Brasil eles funcionam e por isso a única outra voz que permitimos ditar o caminho a seguir. É como uma entidade, deve ser prima da voz do aeroporto, fantasio que ambas vêm de uma  mesma família dedicada à missão de apontar o caminho sem o comprometimento de dar as caras e seguem felizes e realizadas no cumprimento do dever. Não se misturam por isso não as conhecemos, pouco afeitas às vaidades, as primas satisfazem-se só pelo nosso reconhecimento e gozam de nossa simpatia recíproca já que falam mas não perguntam, oferecem mas não aparecem, perfeitas e discretas, devemo-lhes  uma afinidade infinita por representarem as vozes das férias. Adoramos burlar suas dicas já que seguimos também por outro guia imprescindível, a estrada a nossa frente e as pistas de dentro e de fora que, com bom feeling vamos aprendendo a seguir.

sábado, 21 de maio de 2011


No post Férias? É melhor voltar logo pra casa a Ana lembrou de um episódio muito interessante, quando atolamos dentro de um lago.

Quem me conhece sabe que eu não gosto de seguir pelos caminhos normais. Sou muito curioso e principalmente durante viagens eu gosto é de encontrar lugares desconhecidos e que não estão nos guias. Ao menos não como atração principal.


Tem uma outra coisa que aprendi com um grande amigo, o Beto. Uma vez saímos de jipe da sua casa em Alphaville, em São Paulo, e ele avistou uma montanha ao longe. Não sabíamos onde ir. Então ele apontou para a montanha e disse: vamos , no topo daquela montanha. Com isso definimos um objetivo para o passeio despreocupado. Desde então, sempre que vejo uma montanha ou algo que se destaque na paisagem ao longe, mesmo que baixinho, para mim mesmo, eu digo que gostaria de chegar . Sempre fui assim, dificilmente eu estou num lugar. é onde quero estar! Já reclamei muito de mim mesmo por essa inquietude. Mas ultimamente aprendi que isso é uma das forças que me move.

 

RETIDÃO



"Ninguém se perde quando a estrada é reta."

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A ARTE DE VIAJAR

"Ruskin ficava consternado com a raridade com que as pessoas percebiam detalhes. Ele lamentava a cegueira e a pressa dos turistas modernos, especialmente os que se gabavam de ter coberto a Europa em uma semana de trem (serviço oferecido pela primeira vez por Thomas Cook, em 1862): ´ Nenhuma mudança de um lugar para outro a cem quilômetros por hora irá nos deixar mais fortes, mais felizes ou mais sábios. Sempre houve mais no mundo do que os homens conseguiam ver, por mais devagar que andassem. E não enxergarão nem um pouco melhor em alta velocidade. Os aspectos realmente preciosos são o pensamento e a visão, não a velocidade. À bala de nada adianta ser veloz; e a um homem, se ele for um homem de verdade, não prejudica em nada ir devagar, pois sua glória não está de modo algum em ir, mas em ser.`"
                     
Alain de Botton

quinta-feira, 19 de maio de 2011

MINHA VIAGEM É PELA CASA

Particularmente gosto do conforto, como boa canceriana só saio de casa arrastada ou por um justo motivo. Estou bem onde conheço. Onde me sinto em casa. Aprecio detalhes. Gosto de estratégias: vasinhos de flores recém colhidas mostram que alguém esteve lá, alguém cuida. Gosto de histórias e gosto de lugares que tenham histórias. Fumaças saindo de chaminés, cheiro de lenha queimando indicam, de novo, que alguém está lá, zelando. Posso estar equivocada mas para mim o belo e o bom caminham com afinidade. Comungam uma promessa de felicidade.

Conforto se encontra na simplicidade e na excentricidade, confesso que adoro qualquer um de seus leques, já fiquei em hotéis onde se era possível escolher a carta de travesseiros, já fui surpreendida na porta de um chalé, numa tarde em que chovia cântaros, por um guarda-chuva enorme, delicadamente acostado na esquadria da porta, antecipando-se, a mim e a meu problema como só ocorre às mães e aos anjos. Na exata prontidão diante dos nossos desejos e pensamentos.  E, satisfazendo por completo a máxima que em casa, assim como em hotéis, eu  realmente aprecio: "Dê aos seus hóspedes o que eles nem sabem que querem."

Me ocorre uma excentricidade que uma vez li, anotei mas vou ficar devendo a fonte, usarei para ressaltar o primor de lugares únicos, de inigualável luxúria capazes de inebriar. Eles existem ... :"E diz a lenda que, se por acaso um hóspede dos Rothschild em seu château na França, dormisse com o braço para fora da cama, amanhecia com as unhas feitas.".


quarta-feira, 18 de maio de 2011

QUEM TERIA SIDO A BELA ANGÉLICA?

Mais uma vez Mario Prata...

Gosto da curiosidade que o texto desperta e desvela. Devemos esse olhar curioso ao conhecido, olhar de turista, olhar benevolente de quem vê e se deslumbra por ser a primeira vez, por ser desconhecido, devemos esse humor e amor ao cotidiano, ao que nos cerca. Que a intimidade não impeça o deslumbramento. Que o dia a dia não tolha novas ou possíveis descobertas. Resgatemos a capacidade que nos foi dada na infância a de se surpreender diante do esperado.

É por isso que gosto dos que possuem olhos encantados para estes a rotina não sobrepuja a retina.

Gosto de  São Paulo. Mesmo estando no exterior, fico com saudades do congestionamento da Consolação. Adoro as ruas de São Paulo. Gosto, principalmente, dos nomes delas. Mas fico intrigado. Nunca sei quem foram aquelas pessoas que hoje são ruas.

Por exemplo, a Angélica. Que mulher foi esta que deu o nome para uma rua tão importante, movimentada e bonita? Imagino que a Angélica deveria ser uma mulher loira, de olhos claros e pernas bem compridas. Não sei porque, muito gostosa, a Angélica. Alguma ela deve ter aprontado para virar rua.


terça-feira, 17 de maio de 2011

FÉRIAS? É MELHOR VOLTAR LOGO PARA CASA!

Nem sempre as férias são sinônimo de descanso e dias perfeitos, diferentemente do que ditam os guias, do que sugerem as fotos, contamos com as intempéries do tempo, com as dificuldades da língua, às vezes a culinária local é bastante exótica à vista e mais ainda ao paladar.

É certo que estamos com uma disposição que nos falta no cotidiano, afinal estamos em férias, mas ás vezes o que era para ser um destino de descanso acaba se tornando uma aventura, no pior dos casos um verdadeiro safari...nesta altura seus trajes e disposição começam a se inadequar...

Somos desavisados, estrangeiros e se por um lado parece que o passaporte de turista por vezes nos redime os erros, por outros o guia que nos cerceia não é aquele, de papel, pela qual pagamos caro pelas melhores dicas, nos servimos de guias espirituais que se esfalfam por conta da aventura perigosa que em férias nos permitimos cumprir...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

ZOOLÓGICO DE SAN DIEGO


Se você pretende ir para a Califórnia San Diego é um lugar interessante para fazer parte do seu roteiro. Mas considere que na região há tantos lugares maravilhosos que só vale a pena visitar San Diego se as férias durarem mais de 15 dias.

Em 2008, quando fomos para a Califórnia pela primeira vez, fizemos um roteiro de carro saindo de San Diego e indo até São Francisco. Paramos em vários lugares durante os 20 dias de nossa viagem. Com menos dias, esse roteiro ficaria muito cansativo.

Optamos por visitar San Diego por dois motivos: pelo incrível zoológico que fica na cidade, e pela proximidade de Anahein, onde fica a Disneyland (a primeira Disney).

A ARTE DE VIAJAR

"Se cercou de uma série de objetos que proporcionavam o melhor aspecto das viagens: a expectativa."
 Allain de Botton 

sábado, 14 de maio de 2011

SANGUE LATINO

Como iniciarmos um blog despretensioso sem ser superficial, ao mesmo tempo, diferenciado sem parecer arrogante?

Como falar de uma paixão que nos assola, embriaga e contamina, sem sermos assolados, embriagados e contaminados?

Eis que recebo um presente distante que viajou de Trancoso à São Paulo; do virtual ao real. Compartilhado, seguiu seu rumo cumprindo seu ensejo: destino e destinatário, ambos contemplados.

Compartilhar é uma maneira deliciosa de minimizar distâncias. Devanear, uma arte suave de imaginar e refletir. Assim, é com "Sangue Latino" que iniciamos Périplo.

Périplo significa navegação em torno de um mar, de um país. Viagem ou apenas sobrevoo, aqui percorreremos roteiros almejados, ou simplesmente revelados a medida de nossos passos.

Bem-vindos a bordo!

SANGUE LATINO: EDUARDO GALENO

sexta-feira, 13 de maio de 2011

OUTRAS VIAGENS

Sou do tempo em que viajar era uma saga, um misto de desbravamento bandeirante e peregrinação religiosa...

E veja bem, não falo de nenhum lugar exótico em algum recôncavo escondido do mundo; a saber, acho que esses lugares nem existiam; em minha fantasia, eles foram criados e gentilmente ofertados com o advento da internet.

Falo de longas e intermináveis viagens à São Roque (rumo ao sítio de meu avô), falo de viagens de férias com destino ao interior de São Paulo, e falo tb de viagens litorâneas a caminho de São Vicente para o encontro com tios e primos e delicioso direito à banhos de mangueira num fim da tarde em pleno quintal!

Em São Vicente, a história começava no "tentar" ligar. Sou do tempo em que precisávamos de um auxílio da telefonista para isso, e era quase uma incógnita o quanto isso iria durar. Caso a sorte ajudasse, devidamente comunicada nossa intenção, seguíamos viagem...


terça-feira, 10 de maio de 2011

ESTRADA


"Uma estrada e o mapa que a descreve não são iguais."

"As estradas me ensinam a importância do que é torto. Elas seguem a natureza ardilosa dos morros, assustam com suas curvas, mas sempre me deixam na cidade em que nasci."- Fabricio Carpinejar

SEGURE-SE


"Segure-se, vamos entrar numa nuvem."
                                                   Robert Fulghum

PEDRAS


"Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo."
                                                               Fernando Pessoa

PERCEPÇÃO


"O mundo é cheio de coisas mágicas pacientemente esperando que nossa percepção fique mais aguçada."
                                                                                       Bertrand Russel

ÁGUAS



"Em águas calmas todos navios têm bom capitão."
                                                                   Provérbio sueco

BUSCA


"Há mais aqui do que os olhos vêem."
                                                   Lady  Murasaki