Mais um texto maravilhoso de Eduardo Galeano, lúcido, ácido e ao mesmo tempo doce, sempre na justa medida. Mais uma crítica sagaz e exata do cotidiano aos olhos deste estupendo escritor em "Os ninguéns" de seu: "O livro dos Abraços".
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As pulgas sonham com comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
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Bangalore - India |
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
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Bangalore - India |
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
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Santa Monica - EUA |
Que não são, embora sejam.
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São Francisco - EUA |
Que não falam idiomas, falam dialetos
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Santa Barbara - EUA |
Que não praticam religiões, praticam superstições.
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Bangalore - India |
Que não fazem arte, fazem artesanato.
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Nagoya - Japão |
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
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Bangalore - India |
"Que não têm cultura, e sim folclore."
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Bangalore - India |
Que não têm cara, têm braços.
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Bangalore - India |
Que não têm nome, têm número.
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Santa Monica - EUA |
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
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São Paulo - Brasil |
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata."
Um comentário:
Lindo Ana! as fotos captaram todo o conteudo das palavras. Lindo mas triste né? bjo grande
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