sábado, 21 de maio de 2011


No post Férias? É melhor voltar logo pra casa a Ana lembrou de um episódio muito interessante, quando atolamos dentro de um lago.

Quem me conhece sabe que eu não gosto de seguir pelos caminhos normais. Sou muito curioso e principalmente durante viagens eu gosto é de encontrar lugares desconhecidos e que não estão nos guias. Ao menos não como atração principal.


Tem uma outra coisa que aprendi com um grande amigo, o Beto. Uma vez saímos de jipe da sua casa em Alphaville, em São Paulo, e ele avistou uma montanha ao longe. Não sabíamos onde ir. Então ele apontou para a montanha e disse: vamos , no topo daquela montanha. Com isso definimos um objetivo para o passeio despreocupado. Desde então, sempre que vejo uma montanha ou algo que se destaque na paisagem ao longe, mesmo que baixinho, para mim mesmo, eu digo que gostaria de chegar . Sempre fui assim, dificilmente eu estou num lugar. é onde quero estar! Já reclamei muito de mim mesmo por essa inquietude. Mas ultimamente aprendi que isso é uma das forças que me move.

 
Pois é! No caminho entre Mendoza (qualquer dia eu ou a Ana faremos um post sobre essa agradável cidade na Argentina) e a Cordilheira dos Andes estávamos numa excelente e vazia estrada pavimentada. A nossa direita estava uma paisagem lindíssima com um lago azul turquesa e umas montanhas ao fundo. Coisa de uns dois quilômetros de distância da estrada. Num nível bem mais baixo. Olhei o lago e decidi que , na sua margem, é onde eu gostaria de estar. Esse lago foi formado por uma represa.


Não havia estrada para chegar . Mas eu estava dirigindo uma Hilux, a melhor picape de todos os tempos, com tração 4x4. As duas companheiras torceram o nariz, mas eu disse: deixe com o papai aqui! Começamos a descida. Paramos no meio do caminho para fotos (essas que estão aí no post) e estávamos curtindo muito. Mas eu queria chegar . Na beiradinha do lago. O Beto sabe bem o que é isso.


Descemos até o nível do lago e no plano acelerei em direção a margem calculando uma distância de frenagem mais do que suficiente. Então, ao relar no freio, descobri que o solo era um lodo só. O nível do lago havia diminuido recentemente e eu estava tentando parar o carro onde antes era o fundo do lago. A superfície era tão lisa que o carro deslizou como se eu não estivesse aplicando o freio. Fiquei completamente sem ação torcendo para que parássemos antes de entrar no lago. Não deu! Tchibum, entrei com carro e tudo na água.

As duas não entenderam absolutamente nada. Por sorte o lago era bem raso, com o fundo quase plano. A água ficou na metade da altura das rodas. Elas ficaram assustadas, assustadíssimas. Mas o papaizão disse: deixe comigo, estamos numa Hilux 4x4, é só engatar a tração e sair de ré. Que nada! as quatro rodas patinaram e a picape afundou mais um pouco.

Nessas horas eu acabo me odiando. Que ideia idiota essa de ir até a margem do lago! A estrada lá em cima estava tão boa, era só continuarmos nela que chegaríamos na Cordilheira ainda de dia.


Atolados no lago! Sem nenhuma alma viva por perto. Sem telefone. Se a menor condição de sair dali sozinhos. Mulher com medo, que consequentemente deixou a filha com medo, e chorando. Totalmente sem motivo, é claro!

Saí da picape pela caçamba e após consenso decidi que andaria até a estrada para pedir ajuda  elas ficariam no carro. Durante todo esse trajeto eu teria visão total da picape com as duas lá dentro. Normal!

Mas quando cheguei na estrada não achei uma alma viva e não passou nenhum carro por minutos. Além de tirá-las de lá eu não queria perder muito tempo para chegar até a Cordilheira. Isso mesmo, o já tinha mudado...


Não dava pra falar com elas. Considerei que como não havia nenhum ser vivo por perto elas não estavam em perigo. Eu também tinha certeza que a picape não afundaria mais e que também não seria inundada. Fiz algum gesto para elas, pedi proteção mentalmente, e segui correndo pela estrada. Naquela época eu tinha boa forma. Coisa de um quilômetro pela frente encontrei umas casas. Bati palmas e nada. Ninguém por perto. continuei na estrada por mais um quilômetro e após uma curva dei de cara com um vilarejo. E melhor ainda, com um posto policial logo na entrada.

Nesse ponto, antes de entrar no posto policial, pensei em como eu explicaria para os guardas que eu saí da estrada e fui parar dentro do lago. O que será que eles pensariam de mim? Engoli seco, entrei no posto e pedi ajuda. Contei tudo num portunhol lascado e ainda pedi que se apressassem, pois as duas estavam lá, apavoradas.


Chegamos no ponto de onde podíamos avistar o carro, mas não tinha estrada para chegar lá. Eles me olharam e eu disse para seguirem no meio do terreno todo acidentado. Também tentei alertá-los para não fazerem a mesma besteira que eu e pararem a picape deles bem antes da margem.

Nessa altura as duas já estavam na caçamba e achando que a picape estava afundando. Quando eu lembro disso, tenho que admitir que para a Ana não deve ser muito fácil ser minha esposa. Ela que é a mais comportada e caseira que conheço. Ter que me acompanhar não deve ser fácil.


Com um cabo de aço, amarrado no pára-choques traseiro da Hilux, a outra Hilux a tirou do lago com facilidade. Daí fomos juntos até o posto policial para uma pausa. Os guardas eram gente fina e não disseram uma palavra sobre o acontecimento. Tivemos muita sorte de nada de ruim ter acontecido. E apesar do sufoco todo, esse tipo de aventura marca nossas vidas. São histórias que não poderiam ser vividas se não estivermos dispostos a nos aventurar.


Então seguimos caminho para o resto do passeio. Mas daí pra frente tive que me comportar muito. Já na Cordilheira do Andes chegamos numa estradinha que nos levaria até o pé do monte Aconcágua. O estava tão perto! Mas essa estradinha estava cheia de neve, e as duas não me deixaram seguir. Tive que enfiar o rabo entre as pernas e me contentar em apenas ver o bem ao longe.


Bem, essa foi a minha versão da história. Qualquer dia a Ana conta o lado dela. E quem sabe a Jú também conte o que pensou.

Um comentário:

Ana disse...

Paulo,
Ainda lembro da Ana me contando sobre a aventura, o tom era meio indignado, meio rindo, algo do tipo: "agora que passou, dá para rir"... E muitos causos divertidos tem esse tom mesmo, não é?

Beijão e saudades!