terça-feira, 17 de maio de 2011

FÉRIAS? É MELHOR VOLTAR LOGO PARA CASA!

Nem sempre as férias são sinônimo de descanso e dias perfeitos, diferentemente do que ditam os guias, do que sugerem as fotos, contamos com as intempéries do tempo, com as dificuldades da língua, às vezes a culinária local é bastante exótica à vista e mais ainda ao paladar.

É certo que estamos com uma disposição que nos falta no cotidiano, afinal estamos em férias, mas ás vezes o que era para ser um destino de descanso acaba se tornando uma aventura, no pior dos casos um verdadeiro safari...nesta altura seus trajes e disposição começam a se inadequar...

Somos desavisados, estrangeiros e se por um lado parece que o passaporte de turista por vezes nos redime os erros, por outros o guia que nos cerceia não é aquele, de papel, pela qual pagamos caro pelas melhores dicas, nos servimos de guias espirituais que se esfalfam por conta da aventura perigosa que em férias nos permitimos cumprir...

Já passamos por maus bocados, em Key West certa vez nos hospedamos (meus pais, Paulo e eu) num hotel GLS, cansados que estávamos não havíamos visto a bandeira colorida na porta, facilmente vista na claridade da manhã e depois de uma noite de descanso merecido...nenhum problema, não fosse o fato de dividirmos o mesmo quarto e de manhã no saguão do hotel sermos olhados imagino sobre que prisma de perversão já que se tratava de um casal de jovens e um casal de senhores no mesmo quarto. Éramos insuperáveisdiante de qualquer casalzinho mais "modernoso" que lá estava. Pobre mamãe e papai a única orgia foi termos dormido por horas e ininterruptamente depois de uma noite em claro no avião e horas de estrada.

Na recepção ninguém lembrou-se de avisarnos que após as 22hs o clima realmente esquentava nas ruas e assim enquanto meus pais dormiam, ainda se recuperando da grande viagem, Paulo e eu resolvemos fazer um simples passeio de exploração...nos deparamos com homens de calça de couro, sem blusa e chicotinhos em punho...e muitos outros estilos exóticos que nos fizeram voltar as pressas ao quarto!. Mas perdoo o recepcionista, ele certamente deve ter nos confundido e pela pressa com que voltamos pôde perceber que quem se confundira fomos nós!

 Mas Key West é um lugar incrível, o por do sol mais lindo dos Estados Unidos. Artistas de rua. Com direito ao sossego e primor dos americanos.

Já atolamos em lagos e fomos resgatados por guardas em um local ermo, aos pés do Aconcágua. Já estivemos perto de ursos em Yosemite só para ver a última sequóia, sozinhos, voltamos a passos largos para não sermos nós também, os últimos a ver, as últimas sequóias. Já pedimos pratos errados, já pegamos carros errados...

Lembrando que, certas coisas só são engraçadas depois de algum tempo contadas no conforto do sofá de sua casa, mas são sempre boas memórias e fazem parte do "pacote" da vida. Percalços acontecem!

Adiciono este texto de Mario Prata, retirado de seu livro: "100 crônicas O Estado de São Paulo". Divertido e leve, como tudo que é falado distraidamente e logo encontramos uma identificação.   

Férias - certo número de dias consecutivos destinados ao descanso de funcionários, empregados, estudantes, etc., após um período anual ou semestral de trabalho ou atividades.
(Aurélio)

- O cachorro, também vai? Pelo amor de Deus, Creuza!

Pronto. As férias começaram para aquela família.

- Mas pra que três bicicletas?

E eles ainda têm um mês pela frente!

- Não, a empregada, não!!! Definitivamente!

- Mas Gilberto...

Pode-se tirar férias de várias maneiras. Sozinho. Com amigos ou amigas. Com a família. Praia. Ir para a casa dos outros. Ir para a casa de parentes. Férias de reconciliação matrimonial. Férias furtivas com o (ou a) amante.

Em qualquer das situações acima, não tenha dúvida. Você volta morta, louca para voltar ao descanso diário do trabalho. À paz daquele maldito escritório, ao som profundo e rouco do seu chefe (que não tira férias há anos, coitado).

- Meu Deus, não vejo a hora dessas férias acabarem!!!

SOZINHA

Tem gente que gosta. Sair sozinha aí pelo mundo, conhecendo lugares, sem ninguém por perto para perturbar a santa paz. Ledo engano, minha amiga. Depois de uma semana, bate a solidão, a saudade. Você não encontra ninguém conhecido pelas ruas do exterior, não sabe direito onde ficam as coisas, onde comprar isso ou aquilo.

Chega de noite, você pega um daquelas cartões na portaria do hotel e vai para um, atenção: Paris (por exemplo) By Night. Aí começa a sua perdição. Primeiro porque o ônibus (ao contrário do anunciado) não tem ar condicionado e ainda vai passar em uma porção de hoteís pegando mais desavisados. E você vai ver os piores shows de Paris, sorrindo para pessoas que não entendem a sua língua, nem você a delas. Vai chegar no hotel (depois do ônibus passar por vários hotés despejando bêbados), mais cansada do que nunca, depois de assistir aquele incrível strip-tease de uma transformista, imagine, brasileiro!

Mas para quem gosta de ir sozinha e mal acompanhada, tem as viagens de excursão. Você vai com a dona Stella ou com a Tia Augusta. A baixaria já começa no avião. Tem sempre uns engraçadinhos nessas viagens. Aquele que logo vira o líder do grupo. Aquele mesmo que puxa um violão e começa a cantar a Jardineira.

E você passa voando pelas capitais. Cansa, o sapato aperta, a saudade dói.

É melhor voltar logo para casa.

COM AMIGOS OU AMIGAS

Vai ter que dividir o quarto com alguém ou alguéns. E é aí que começa a tortura. Tem o ronco, aquela que sai do banheiro e molha todo o quarto. Aquele que não dá descarga. Aquela que chega mais tarde e acorda todo mundo para dizer que conheceu não sei quem em um bar ma-ra-vi-lho-so.
E o pior é na hora de decidir para onde ir. Um quer museu, outro um barzinho e tem aquela peça que ninguém pode perder.

E quando você descobre que a sua amiga está usando a sua última calcinha?

Você não imagina a saudade que você vai ficar do seu quarto, do seu banheirinho cheiroso, dos seus cremes, da pasta de dentes apertada do jeito que você gosta.

É melhor voltar logo para casa.

COM A FAMÍLIA

É complicado. Geralmente são viagens de carro, aqui mesmo pelo Brasil, organizada com meses e meses de antecedência. Depois de milhares de discussões e brigas, chega-se a um consenso de para onde ir.

Revisão no carro, o cachorro vai ou não vai? E o coelho? O coellho não, assim já é demais. Fica com a empregada. Mas a empregada vai!

- Meu amor, a gente tem uma Brasília!

As bicicletas vão em cima. Mas e o isopor?

- Precisa levar mesmo a banheirinha?
- E o troca-fraldas também.

Já na estrada o pai pergunta ao filho adolescente:
- Você não está com nada em cima, né?
- Não!
Mentira.

Aí tem que achar um posto decente para esquentar a mamadeira e o cachorro fazer xixi. A empregada também quer.

A fralda é trocada dentro do carro. E a esposa não admite jogar pela janela.

As férias estão começando.

É melhor voltar logo para casa.

PRAIA

De dia: sol quente, cerveja fria. Areia no cabelo, bichinhos entrando dentro do biquini. Água fria, onda alta. Praia suja, trombadinhas. O vento leva o jornal, o livro tá todo molhado. Criança correndo e te jogando areia, garotão do lado te piscando. Corpo bezuntado, bicho-do-pé. Camarão torrado, limonada doce. Borrachudo, borrachudo, mais borrachudo.

- Cadê o Altan?

De noite: pernilongo, batucada na casa ao lado. Falta de luz, inundação. Chuveiro que caem duas gotas, toalha molhada. Televisão com chuvisco, acabou o papel higiênico, gente.
Onde andaria o altaneiro Altan?

É melhor voltar logo para casa.

NA CASA DOS OUTROS

Não existe nada pior do que passar esses dias na casa dos outros. Claro, você nunca vai se sentir em casa. Nunca, por mais que a anfitriã diga:

- A casa é sua. É pequena, mas o coração é grande!
Mentira.

Você tem que entrar no horário deles, comer na hora certa, fazer as suas necessidade idem. Você tenta colaborar. Acorda e arruma a cama. O pior é que depois você volta ao quarto e percebe que a cama foi rearrumada. Casa casa arruma a cama de um jeito.

Você não pode encher a cara. O que a Dayse não vai pensar? E aquele cheiro que ficou no banheiro? Como disfarçar?

O pior é que eu tenho certeza que você esqueceu de levar lençois e toalhas. E era para levar.

E o esporro que as crianças estão fazendo na sala? A dona da casa, educada, não fala nada. Mas olha.

E quando o dono da casa quer ver futebol e o seu pirralho ver aqueles loucos do Zodíaco?

O pior é que você detesta baralho e tem que ficar jogando buraco até a uma da manhã, tomando cafezinho!

É melhor voltar logo para casa.

NA CASA DE PARENTES

Geralmente na casa da sogra, já meio esclerosada. "Mas meu amor, se a gente não vai fazer uma visitinha, quem vai"? Sem contar naquele cunhado bêbado e desempregado que sempre fica olhando para as suas pernas.

E as fofocas sobre as primas que ainda não casaram? E comer aquele arroz sem sal que a velha faz?

E o velho, que detesta crianças?

E a tia velha que ralha com as crianças que mexem nas coisinhas dela?

E o bolo que você tem que fazer para agradar a mãezinha do seu marido?

E toma maionese!

É melhor voltar logo para casa.

FÉRIAS DE RECONCILIAÇÃO

Casais acham que isso dá certo. Não é o que dita a experiência. Casal nunca se reconcilia em viagem. Muito pelo contrário. Afinal, brigar lá fora é muito melhor, porque ninguém entende a baixaria.

É melhor voltar logo para casa.

COM O (A) AMANTE

Nunca dá certo. Você pode dizer que é uma viagem de negócio, etc. Mas, por mais longe que você vá, acaba encontrando algum amigo do seu marido ou da sua esposa. É inevitável. De repente você está lá na Baia das Gatas, em Cabo Verde, por exemplo, tomando um solzinho e logo ouve:

- Maria Ignês, você por aqui, menina?

É melhor voltar logo para casa.

E tem mais: amante é para ser amante. Nenhum amante aguenta um amante depois de 72 horas ininterruptas juntos. Vira esposo ou esposa.

Pode ter certeza, a sua cidade é a maior tranquilidade nas férias!
Deixe que todos tirem férias e fique em casa. De férias. Não existe nada melhor.

5 comentários:

A Paris... disse...

Pois é,
A resenha das possibilidades decorrentes das diversas alternativas de férias, vista sob o enfoque do "Férias Frustradas", aquela deliciosa série de filmes non-sense, está ótima.
Talvez seja por isto que eu evito viagens em grupo...
Gostei deste post!
Um abraço
Alexander

Unknown disse...

Ana...
Adorei esse post e me identifiquei em "várias situações" - claro: beeeeem vivenciadas. rsrs
Confesso que viajar sozinha não é a minha cara mesmo. Adoro estar com pessoas interessantes por perto e de preferência com bom senso também, pra perceber que mesmo durante uma viagem de férias, eu não tenho necessidade de estar ligada no 220 e participar daqueles infindáveis pacotes turísticos.
Beijos minha linda.

Rachel Marques Ferreira disse...

Aninha
adorei este post e as diversidades de férias! bjoss

Fernando Ottoni disse...

Texto copiado de uma crônica do Mário Prata na década de 90

Paulo Keller disse...

Como explicado antes do texto: Adiciono este texto de Mario Prata, retirado de seu livro: "100 crônicas O Estado de São Paulo". Divertido e leve, como tudo que é falado distraidamente e logo encontramos uma identificação.