segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A ROTA DOS SALMÕES

"Pouco depois de nascer, os salmões abandonam seus rios e vão para o mar.
Em águas longínquas passam a vida, até se lançarem à longa viagem de regresso.
Do mar, remontam os rios. Guiados por alguma bússola secreta, nadam contra a corrente, sem se deter nunca, saltando através das cascatas e dos pedregais. Após muitas léguas, chegam ao lugar onde nasceram.
Voltam para parir e morrer.
Nas águas salgadas, cresceram muito e mudaram de cor. Chegam convertidos em peixes enormes, que do rosa pálido passaram ao laranja avermelhado, ou ao azul de prata, ou ao verde-negro.
O tempo passou, e os salmões já não são o que eram. Tampouco seu lugar é o que era. As águas transparentes de seu reino de origem e destino estão cada vez menos transparentes, e cada vez se vê menos o fundo de cascalhos e seixos. Os salmões mudaram e seu lugar também mudou. Mas eles levam milhões de anos acreditando que o regresso existe, e que não mentem as passagens de ida e volta."

Eduardo Galeano em, Bocas do Tempo.

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